quinta-feira, junho 20, 2013

África do Sul: Mortes em campo de concentração para cura gay chocam o mundo

O dono de um acampamento para cura de gays na África do Sul, Alex De Koker, 49, e seu empregado Michael Erasmus, 20, estão respondendo pela morte de três jovens e crime de tortura, abuso infantil e negligência. Eles coordenavam um centro de treinamento para jovens criado em 2006 com a promessa de transformar meninos em homens. Os jovens gays e afeminados eram obrigados a passar fome e comer as próprias fezes.
Após 10 meses no curso de treinamento no Echo Wild Game Rangers, instituição agora fechada e acusada de torturar jovens gays, Raymond Buys, 15 anos, (foto tirada em 2011), passou de um estado de saúde normal para a morte por desidratação e inanição. Seus pais pagaram cerca de R$5 mil, com a promessa que o jovem voltaria heterossexual para casa. Ao invés disso, além da magreza cadavérica, o jovem apresentava o braço quebrado em dois lugares,  e também machucados e queimaduras pelo corpo. Internado em uma unidade de tratamento intensivo, depois de um mês, ele não resistiu. 
 
O acampamento não era uma unidade de tratamento de homossexuais propriamente dita, mas a propaganda de entregar filhos mais homens era levada a sério pelo “general” De Koker. Rapazes com traços de feminilidade ou que não completassem as tarefas de trabalho forçado apanhavam e eram castigados. Assim foram relatados os horrores cometidos no local por outros rapazes que passaram pelo acampamento.
 
Tortura com máquinas de choque, espacamento com canos, varas e barras de ferro, proibição de ir ao banheiro à noite, para evitar encontros furtivos, eram a rotina dos jovens com traços homossexuais no local, e eles serviam de exemplo para os demais. 
 
Eric Calitz, 18, e Nicolaas Van Der Walt, 19, foram as outras vítimas do campo de concentração particular de De Koker entre 2007 e 2011. Todas as três vítimas eram meninos delicados e que se encaixavam fora do perfil masculino considerado ideal pelo “general”. Pagaram com a vida a homofobia de pais e do instrutor. Os dois acusados alegam serem inocentes das mortes. Van Der Walt foi sufocado por um cinto e Calitz teve sangramento cerebral, apontaram os examespost mortem, em ambos os casos o Echo Wild afirmou que eles morreram de ataque cardíaco.

 29 Abril, 2013 - 14:05

Pastor que fazia ‘cura gay’ é preso por abuso sexual de dois homens

O pastor Ryan Muehlhauser 
MINESSOTA, EUA — Um pastor de Minessota foi preso na última quinta-feira acusado de abusar sexualmente de dois homens durante sessões de “aconselhamento para se libertar de tendências homossexuais” em uma organização cristã anti-gay. De acordo com o jornal local “Kare 11”, o reverendo Ryan J. Muehlhauser - casado e pai de dois filhos - responde a oito acusações criminais por abuso sexual de rapazes que passavam pela “terapia” indicada pelo pastor. Ele pode pegar até dez anos de prisão por cada um dos crimes.
Os abusos teriam ocorrido em datas diferentes: de outubro de 2010 a outubro de 2012, e entre março e novembro deste ano. Uma das vítimas disse a polícia que continuou as sessões mesmo depois do abuso porque acreditava se tratar de um aconselhamento espiritual. Além de ser consultor na organização cristã anti-gay Outpost, Muehlhauser atuou como pastor na Igreja Cristã Lakeside, em Minnesota, por 22 anos.
Em seu site, a organização negou que o pastor fizesse parte da equipe de “cura”. Após o incidente, a Outpost passou a se definir como uma organização que “ajuda as pessoas feridas emocionalmente e sexualmente a encontrarem a cura e restauração por meio da relação com Jesus Cristo.”
“A Outpost está profundamente triste com as alegações sobre Ryan Muehlhauser. Somos fundamentalmente contra o abuso sexual e existimos, em parte, para ministrar aos que sofreram essa violência. Ryan não é e nunca foi um membro de nossa equipe, e nem era um pastor que recomendávamos. Os dois jovens que sofreram esta atrocidade continuam conosco e queremos ajudá-los da maneira que formos capazes. Nossa tristeza e as nossas orações vão para todos os que foram sexualmente violados.”






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Entrevista: Fundador de grupo de ‘cura de homossexuais’ que se assumiu gay

Por William De Luca
Nada melhor do que um exemplo para refutar a eficiência de tratamentos para a conversão de orientação sexual, que dizem que gays podem se ‘converter’ em heteros. O professor de inglês, filosofia e teólogo carioca Sergio Viula, 42 anos, foi um dos fundadores do Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), ONG evangélica que dá auxílio a pessoas que desejam abandonar a homossexualidade. Ele casou-se, teve dois filhos e viu de perto os métodos de ‘reorientação sexual’. Sergio conversou comigo com exclusividade, e mostra que os métodos de mudança de orientação sexual são ineficazes e causam dor e sofrimento a quem se dispõe a passar por qualquer deles.
Como começou sua vida junto à igreja evangélica? Como foi a sua entrada?
 - Eu comecei aos 16 anos, numa igreja noepentecostal, mas depois migrei para a igreja batista. Eu me converti a partir da pregação de colegas, não era de família, que era católica. Hoje parte é católica e parte é evangélica.
Nessa época você já sabia que era gay? Já tinha tido relacionamentos com guris?
 - Havia tido relacionamentos gays, sim, mas não assumia, eu pensava que fosse passageiro. Meu primeiro relacionamento foi aos 12 anos, com um garoto um pouco mais velho, de forma escondida, é claro, durante dois anos. Na verdade, queria pensar que tudo isso fosse passageiro, por causa das pressões em casa. Minha família era muito tradicional.
Como foi o processo de “virar ex-gay”?
 - Na verdade, ex-gay não existe, é pura auto-sugestão. Eu comecei a ir à igreja e percebi que os homossexuais não tinham como lidar com suas ‘dificuldades’, por falta de orientação das lideranças, então decidi fundar o Movimento pela Sexualidade Sadia (Moses), junto com João Luiz Santolin e Liane França. Foi aí que comecei realmente a dizer em momentos oportunos que era ex-gay.
Você nunca se convenceu que tinha virado ex gay? Sempre soube que estava se enganando?
 - Hoje sei que estava me enganando. Na época, pensava que qualquer sentimento ou atração fosse mera ‘tentação’ e que isso poderia ser superado com oração e dedicação a deus. No grupo, basicamente, pensávamos que ser gay fosse pecado, que devia ser confessado e abandonado e para isso, fazíamos proselitismo, aconselhamento, oração, pregação, recomendávamos certos livros, leitura bíblica, coisas que os crentes geralmente fazem, mas com foco na homossexualidade, sempre demonizando a homoafetividade, infelizmente. Eu trabalhei com a igreja num total de 18 anos, o Moses começou em 1997, em 2003 eu estava fora, foram quase sete anos. Tínhamos psicólogos parceiros e contávamos com vários voluntários. Uma vez enchemos um ônibus e levamos para o Miss Brasil Gay em Juiz de Fora só para evangelizarmos os LGBT que foram ao evento, mas na diretoria eram cerca de 10 pessoas.
Mas como era esse processo de ‘abandonar o pecado’? Era como um tratamento?
 – Isso não acontecia de fato, era o que se chamava discipulado, acaba sendo uma lavagem cerebral. Você tem que se isolar do seu antigo círculo de amigos, começar a se enfiar nas reuniões da igreja, fazer sessões de aconselhamento, orar, jejuar, essas coisas. Quando acontecia de alguém se envolver com outro homossexual, ele tinha que confessar o que fez, UMA LOUCURA DO CARALHO! Desculpe, mas ainda hoje tenho até raiva de lembrar disso.
Por que raiva?
 – Ninguém deixava de ser gay, houve relacionamentos até dentro do grupo, entre uma atividade e outra da igreja, eles sempre arrumavam tempo pra isso. Você consegue imaginar quanto sofrimento para mim mesmo e para todos os que atuaram ou foram influenciados por esse trabalho? É irritante! E tem gente até hoje repetindo esse discurso imbecil.
O que tu sente quando vê pessoas como o pastor Silas Malafaia fazendo pregações do tipo que você fazia? É um discurso parecido?
 – Ele é um idiota! Eu era um garoto quando me envolvi com tudo isso, tinha pouquíssima experiência de vida e não ainda não havia tanta informação como hoje. Agora, ele atua na base da má-fé mesmo, com interesses financeiros, projetos de poder, etc. E diz ele que nunca foi gay, será? Fico muito desconfiado de gente que gasta tanta energia e dinheiro para combater algo que não tenha nada a ver consigo mesma. Entendo heterossexuais que compreendem os riscos da homofobia, mas não entendo heterossexuais que quase surtam só por saberem que os gays estão felizes, saudáveis e produzindo para o país…
Será que não é pra ter uma bandeira atualmente? Ganhar visibilidade, sei lá…
 – Não deixa de ser má-fé. Só confirma minha tese.
Quando você decidiu que era momento de parar? Você saiu do movimento ao mesmo tempo em que saiu do armário?
 – Sim, saí ao mesmo tempo. Tudo aconteceu quando eu tive certeza de que já tinha feito e crido ao máximo. A gota d’água foi uma viagem a Cingapura, durante a qual conheci um filipino e fiquei com ele. Já voltei decido que iria colocar um fim nessa panacéia. Fiz isso e comecei imediatamente a repensar diversas das minhas posturas e crenças, levou ainda dois anos para que eu dissesse tudo o que digo até hoje. Houve perseguição por parte do Moses, muita gente ficou em choque, mas eles tiveram que se dobrar, pois minha atuação no movimento era grande. Minha maior projeção, porém, se dava na igreja. Eu era pastor, editor do jornal Desafio das Seitas, que teve seu auge durante minha atuação, e por aí vai…
E na sua família? Qual foi a reação?
 – Houve um choque por parte dos meus pais, mas meus filhos nunca criaram problema, só ficaram perplexos, porque eu saí da igreja, já que eu era tão dedicado. Separei-me da mãe deles, mas isso não criava grandes problemas, aparentemente. Só me perguntaram francamente sobre o assunto aos 12 (ela) e aos 11 (ele). Ambos compreenderam numa boa e sempre foram meus amigos. Relacionam-se muito bem comigo e com meu parceiro Emanuel.
Você hoje se sente completo, feliz?
 – Sim, hoje me sinto em paz comigo mesmo, feliz e me pergunto como pude ter suportado tanta castração inútil por tanto tempo.
Você acha que o que vocês faziam era uma violência, contra vocês mesmos, e contra os outros?
 – Sim, era uma violência contra nós mesmos, por termos internalizado a homofobia que nos circundava desde cedo, e contra os outros, porque reproduzíamos essa mesma homofobia que eles mesmos já tinham internalizado. Só reforçávamos ainda mais isso.
Você não apenas largou a igreja, o movimento, como deixou de acreditar em deus… Como se deu isso?
 – Isso se deu em função de questionamentos honestos e ousados sobre deus/deuses, escrituras cristãs e de outras religiões, igreja e outras instituições religiosas. Meu pensamento e atitude com relação a ideia de deus/deuses não é mero fruto de sofrimento com essa ou aquela igreja ou crença. Na verdade, muitas igrejas se abriram para mim quando saí do armário e confessaram seu interesse em que eu, não só participasse da vida da igreja, como ministrasse como pastor dela. O próprio bispo fundador da Metropolitan Community Church, Troy Perry, me disse isso pessoalmente. Também não foi por ver mau comportamento de crentes em geral, uma vez que conheço alguns que considero pessoas fantásticas até hoje (tanto do mainstream evangélico e protestante, como das modernas igrejas inclusivas). Tendo isso em mente, nem deus, nem escrituras, nem igrejas passam pelo crivo da razão, e não me refiro à razão de uma mente brilhante como a de Nietzsche, Darwin, Sartre, Hopkins, Dawkins, etc., refiro-me à razão de uma mente mediana como a minha. Não posso ir contra mim mesmo e contra aquilo que enxergo tão distintamente. No entanto, defendo a liberdade. E por isso, crer e não crer são coisas que não podem ser controladas, coibidas, exceto quando colocam os direitos humanos em xeque.
Pra terminar, o que você diria pra um jovem gay que está passando por este processo de ‘cura espiritual da homossexualidade’? Vale a pena?
 – Conversão religiosa que não admite e CELEBRA sua homossexualidade não merece seu tempo e talento. Se quiser frequentar alguma comunidade, procure uma que tenha maturidade até para questionar a validade das assertivas religiosas. Mas, preferencialmente, viva sem depender de muletas existenciais quaisquer que sejam elas. Aproveito para sugerir a leitura de um post escrito por mim. Esse post nasceu do esboço de uma palestra que dei na Igreja Ecumênica de Copacabana por ocasião das comemorações do dia da Bíblia no calendário católico. Foi esse ano.
William De Luca é repórter de economia do Jornal da Paraíba. Jornalista, ativista LGBT.



Famoso psiquiatra pede desculpas por estudo sobre "cura" para LGBTs

Por Benedict Carey, do The New York Times. Tradutor: George El Khouri Andolfato 
dr. Robert L. Spitzer (Foto: Divulgação)
Dr. Robert L. Spitzer (Foto: Divulgação)

O fato foi simplesmente que ele fez tudo errado, e ao final de uma longa e revolucionária carreira, não importava com quanta frequência estivesse certo, o quão poderoso tinha sido ou o que isso significaria para seu legado.


O dr. Robert L. Spitzer, considerado por alguns como o pai da psiquiatria moderna, que completa 80 anos nesta semana, acordou recentemente às 4 horas da madrugada ciente de que tinha que fazer algo que não é natural para ele.

Ele se esforçou e andou cambaleando no escuro. Sua mesa parecia impossivelmente distante; Spitzer sofre de mal de Parkinson e tem dificuldade para caminhar, se sentar e até mesmo manter sua cabeça ereta.

A palavra que ele às vezes usa para descrever essas limitações –patéticas– é a mesma que empregou por décadas como um machado, para atacar ideias tolas, teorias vazias e estudos sem valor.

Agora, ali estava ele diante de seu computador, pronto para se retratar de um estudo que realizou, uma investigação mal concebida de 2003 que apoiava o uso da chamada terapia reparativa para “cura” da homossexualidade, voltada para pessoas fortemente motivadas a mudar.

O que dizer? A questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo estava sacudindo novamente a política nacional. O Legislativo da Califórnia estava debatendo um projeto de lei proibindo a terapia como sendo perigosa. Um jornalista de revista que se submeteu à terapia na adolescência, o visitou recentemente em sua casa, para explicar quão miseravelmente desorientadora foi a experiência.

E ele soube posteriormente que um relatório da Organização Mundial de Saúde, divulgado na quinta-feira (17), considera a terapia “uma séria ameaça à saúde e bem-estar –até mesmo à vida– das pessoas afetadas”.

Os dedos de Spitzer tremiam sobre as teclas, não confiáveis, como se sufocassem com as palavras. E então estava feito: uma breve carta a ser publicada neste mês, na mesma revista onde o estudo original apareceu.

“Eu acredito que devo desculpas à comunidade gay”, conclui o texto.

Perturbador da paz

A ideia de estudar a terapia reparadora foi toda de Spitzer, dizem aqueles que o conhecem, um esforço de uma ortodoxia que ele mesmo ajudou a estabelecer.

No final dos anos 90 como hoje, o establishment psiquiátrico considerava a terapia sem valor. Poucos terapeutas consideravam a homossexualidade uma desordem.

Nem sempre foi assim. Até os anos 70, o manual de diagnóstico do campo classificava a homossexualidade como uma doença, a chamando de “transtorno de personalidade sociopática”. Muitos terapeutas ofereciam tratamento, incluindo os analistas freudianos que dominavam o campo na época.

Ativistas LGBTs fizeram objeção furiosamente e, em 1970, um ano após os protestos de Stonewall para impedir as batidas policiais em um bar de Nova York, um grupo de manifestantes dos direitos LGBT confrontou um encontro de terapeutas comportamentais em Nova York para discutir o assunto. O encontro foi encerrado, mas não antes de um jovem professor da Universidade de Columbia sentar-se com os manifestantes para ouvir seus argumentos.

“Eu sempre fui atraído por controvérsia e o que eu ouvi fazia sentido”, disse Spitzer, em uma entrevista em sua casa na semana passada. “E eu comecei a pensar, bem, se é uma desordem mental, então o que a faz assim?”

Ele comparou a homossexualidade com outras condições definidas como transtornos, tais como depressão e dependência de álcool, e viu imediatamente que as últimas causavam angústia acentuada e dano, enquanto a homossexualidade frequentemente não.

Ele também viu uma oportunidade de fazer algo a respeito. Spitzer era na época membro de um comitê da Associação Americana de Psiquiatria, que estava ajudando a atualizar o manual de diagnóstico da área, e organizou prontamente um simpósio para discutir o lugar da homossexualidade.

A iniciativa provocou uma série de debates amargos, colocando Spitzer contra dois importantes psiquiatras influentes que não cediam. No final, a associação psiquiátrica ficou ao lado de Spitzer em 1973, decidindo remover a homossexualidade de seu manual e substituí-la pela alternativa dele, “transtorno de orientação sexual”, para identificar as pessoas cuja orientação sexual, lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual ou hétero, lhes causava angústia.

Apesar da linguagem arcana, a homossexualidade não era mais um “transtorno”. Spitzer conseguiu um avanço nos direitos civis em tempo recorde.

“Eu não diria que Robert Spitzer se tornou um nome popular entre o movimento LGBT mais amplo, mas a retirada da homossexualidade foi amplamente celebrada como uma vitória”, disse Ronald Bayer, do Centro para História e Ética da Saúde Pública, em Columbia. “‘Não Mais Doente’ foi a manchete em alguns jornais gays.”

Em parte como resultado, Spitzer se encarregou da tarefa de atualizar o manual de diagnóstico. Juntamente com uma colega, a dra. Janet Williams, atualmente sua esposa, ele deu início ao trabalho. A um ponto ainda não amplamente apreciado, seu pensamento sobre essa única questão –a homossexualidade– provocou uma reconsideração mais ampla sobre o que é doença mental, sobre onde traçar a linha entre normal e não.

O novo manual, um calhamaço de 567 páginas lançado em 1980, se transformou em um best seller improvável, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior. Ele estabeleceu instantaneamente o padrão para futuros manuais psiquiátricos e elevou seu principal arquiteto, então próximo dos 50 anos, ao pináculo de seu campo.

Ele era o protetor do livro, parte diretor, parte embaixador e parte clérigo intratável, rosnando ao telefone para cientistas, jornalistas e autores de políticas que considerava equivocados. Ele assumiu o papel como se tivesse nascido para ele, disseram colegas, ajudando a trazer ordem para um canto historicamente caótico da ciência.

Mas o poder tem seu próprio tipo de confinamento. Spitzer ainda podia perturbar a paz, mas não mais pelos flancos, como um rebelde. Agora ele era o establishment. E no final dos anos 90, disseram amigos, ele permanecia tão inquieto como sempre, ávido em contestar as suposições comuns.

Foi quando se deparou com outro grupo de manifestantes, no encontro anual da associação psiquiátrica em 1999: os autodescritos ex-gays. Como os manifestantes LGBTs em 1973, eles também se sentiam ultrajados por a psiquiatria estar negando a experiência deles –e qualquer terapia que pudesse ajudar.

A terapia reparativa
A terapia reparativa, às vezes chamada de terapia de “conversão” ou “reorientação sexual”, é enraizada na ideia de Freud de que as pessoas nascem bissexuais e podem se mover ao longo de um contínuo de um extremo ao outro. Alguns terapeutas nunca abandonaram a teoria e um dos principais rivais de Spitzer no debate de 1973, o dr. Charles W. Socarides, fundou uma organização chamada Associação Nacional para Pesquisa e Terapia da Homossexualidade (Narth, na sigla em inglês), no sul da Califórnia, para promovê-la.

Em 1998, a Narth formou alianças com grupos de defesa socialmente conservadores e juntos eles iniciaram uma campanha agressiva, publicando anúncios de página inteira em grandes jornais para divulgar histórias de sucesso.

“Pessoas com uma visão de mundo compartilhada basicamente se uniram e criaram seu próprio grupo de especialistas, para oferecer visões alternativas de políticas”, disse o dr. Jack Drescher, psiquiatra em Nova York e coeditor de “Ex-Gay Research: Analyzing the Spitzer Study and Its Relation to Science, Religion, Politics, and Culture”.

Para Spitzer, a pergunta científica no mínimo valia a pena ser feita: qual era o efeito da terapia, se é que havia algum? Estudos anteriores tinham sido tendenciosos e inconclusivos.

“As pessoas me diziam na época: ‘Bob, você vai arruinar sua carreira, não faça isso’”, disse Spitzer. “Mas eu não me sentia vulnerável.”

Ele recrutou 200 homens e mulheres, dos centros que realizavam a terapia, incluindo o Exodus International, com sede na Flórida, e da Narth. Ele entrevistou cada um profundamente por telefone, perguntando sobre seus impulsos sexuais, sentimentos, comportamentos antes e depois da terapia, classificando as respostas em uma escala.

Spitzer então comparou os resultados de seu questionário, antes e depois da terapia. “A maioria dos participantes relatou mudança de uma orientação predominante ou exclusivamente homossexual antes da terapia, para uma orientação predominante ou exclusivamente heterossexual no ano passado”, concluiu seu estudo.

O estudo –apresentado em um encontro de psiquiatria em 2001, antes da publicação– tornou-se imediatamente uma sensação e grupos de ex-gays o apontaram como evidência sólida de seu caso. Afinal aquele era Spitzer, o homem que sozinho removeu a homossexualidade do manual de transtornos mentais. Ninguém poderia acusá-lo de tendencioso.

Mas líderes LGBTs o acusaram de traição e tinham suas razões.

O estudo apresentava problemas sérios. Ele se baseava no que as pessoas se lembravam de sentir anos antes –uma lembrança às vezes vaga. Ele incluía alguns defensores ex-gays, que eram politicamente ativos. E não testava uma terapia em particular; apenas metade dos participantes se tratou com terapeutas, enquanto outros trabalharam com conselheiros pastorais ou em grupos independentes de estudos da Bíblia.

Vários colegas tentaram impedir o estudo e pediram para que ele não o publicasse, disse Spitzer.

Mas altamente empenhado após todo o trabalho, ele recorreu a um amigo e ex-colaborador, o dr. Kenneth J. Zucker, psicólogo-chefe do Centro para Vício e Saúde Mental, em Toronto, e editor do “Archives of Sexual Behavior”, outra revista influente.

“Eu conhecia o Bob e a qualidade do seu trabalho, e concordei em publicá-lo”, disse Zucker em uma entrevista na semana passada.

O artigo não passou pelo habitual processo de revisão por pares, no qual especialistas anônimos avaliam o artigo antes da publicação.

“Mas eu lhe disse que o faria apenas se também publicasse os comentários” de resposta de outros cientistas para acompanhar o estudo, disse Zucker.

Esses comentários, com poucas exceções, foram impiedosos. Um citou o Código de Nuremberg de ética para condenar o estudo não apenas como falho, mas também moralmente errado.

“Nós tememos as repercussões desse estudo, incluindo o aumento do sofrimento, do preconceito e da discriminação”, concluiu um grupo de 15 pesquisadores do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, do qual Spitzer era afiliado.

Spitzer não deixou implícito no estudo que ser homossexual era uma opção, ou que era possível para qualquer um que quisesse mudar fazê-lo com terapia. Mas isso não impediu grupos socialmente conservadores de citarem o estudo em apoio a esses pontos, segundo Wayne Besen, diretor executivo da Truth Wins Out, uma organização sem fins lucrativos que combate o preconceito contra LGBTs.

Em uma ocasião, um político da Finlândia apresentou o estudo no Parlamento para argumentar contra as uniões civis, segundo Drescher.

“Precisa ser dito que quando este estudo foi mal utilizado para fins políticos, para dizer que os gays deviam ser curados –como ocorreu muitas vezes. Bob respondia imediatamente, para corrigir as percepções equivocadas”, disse Drescher, que é gay.

Mas Spitzer não conseguiu controlar a forma como seu estudo era interpretado por cada um e não conseguiu apagar o maior erro científico de todos, claramente atacado em muitos dos comentários: simplesmente perguntar para as pessoas se elas mudaram não é evidência de mudança real. As pessoas mentem, para si mesmas e para os outros. Elas mudam continuamente suas histórias, para atender suas necessidades e humores.

Resumindo, segundo quase qualquer medição, o estudo fracassou no teste do rigor científico que o próprio Spitzer foi tão importante em exigir por muitos anos.

“Ao ler esses comentários, eu sabia que era um problema, um grande problema, e um que eu não podia responder”, disse Spitzer. “Como você sabe que alguém realmente mudou?”

Reconhecimento
Foram necessários 11 anos para ele reconhecer publicamente.

Inicialmente ele se agarrou à ideia de que o estudo era exploratório, uma tentativa de levar os cientistas a pensarem duas vezes antes de descartar uma terapia de cara. Então ele se refugiou na posição de que o estudo se concentrava menos na eficácia da terapia e mais em como as pessoas tratadas com ele descreviam mudanças na orientação sexual.

“Não é um pergunta muito interessante”, ele disse. “Mas por muito tempo eu pensei que talvez não tivesse que enfrentar o problema maior, sobre a medição da mudança.”

Após se aposentar em 2003, ele permaneceu ativo em muitas frentes, mas o estudo da terapia reparativa permaneceu um elemento importante das guerras culturais e um arrependimento pessoal que não o deixava em paz. Os sintomas de Parkinson pioraram no ano passado, o esgotando física e mentalmente, tornando ainda mais difícil para ele lutar contra as dores do remorso.

E, em um dia em março, Spitzer recebeu um visitante. Gabriel Arana, um jornalista da revista “The American Prospect”, entrevistou Spitzer sobre o estudo sobre terapia reparativa. Aquela não era uma entrevista qualquer; Arana se submeteu à terapia reparativa na adolescência e o terapeuta dele recrutou o jovem para o estudo de Spitzer (Arana não participou).

“Eu perguntei a ele sobre todos os seus críticos e ele disse: ‘Eu acho que eles estão certos’”, disse Arana, que escreveu sobre suas próprias experiências no mês passado. Arana disse que a terapia reparativa acabou adiando sua autoaceitação e lhe induziu a pensamentos de suicídio. “Mas na época que fui recrutado para o estudo de Spitzer, eu era considerado uma história de sucesso. Eu teria dito que estava fazendo progressos.”

Aquilo foi o que faltava. O estudo que na época parecia uma mera nota de rodapé em uma grande vida estava se transformando em um capítulo. E precisava de um final apropriado –uma forte correção, diretamente por seu autor, não por um jornalista ou colega.

Um esboço da carta já vazou online e foi divulgado.

“Você sabe, é o único arrependimento que tenho; o único profissional”, disse Spitzer sobre o estudo, perto do final de uma longa entrevista. “E eu acho que, na história da psiquiatria, eu não creio que tenha visto um cientista escrever uma carta dizendo que os dados estavam lá, mas foram interpretados erroneamente. Que tenha admitido isso e pedido desculpas aos seus leitores.”

Ele desviou o olhar e então voltou de novo, com seus olhos grandes cheios de emoção. “Isso é alguma coisa, você não acha?”
Fonte: http://mundo.gay1.com.br/2012/05/famoso-psiquiatra-pede-desculpas-por.html

CONSELHO DE MEDICINA SE DIZ CONTRA CURA DE GAYS


O Conselho Federal de Medicina (CFM), maior e mais importante órgão da área no Brasil, divulgou na semana passada uma nota oficial condenando veementemente o projeto que tenta autorizar que psicólogos “curem” pacientes homossexuais. Na nota, o CFM diz que se trata de uma tentativa de patologização (tornar doença) da homossexualidade.

Na mensagem assinada pelo conselheiro relator do Conselho, José Hiran da Silva Gallo, o CFM reforça que o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) nº 234/2011, de autoria do deputado federal João Campos (PSDB-GO), “se trata de uma tentativa de legalizar a patologização da homossexualidade”.

“A posição do Conselho Federal de Medicina está claramente colocada desde 1985, quando retirou a homossexualidade da condição de desvio sexual; nestas condições acompanha a posição da Assembleia Mundial da Saúde expressa em 1990, bem como a manifestação da Organização Pan-Americana, em 2012, que veio a público se manifestar contra ‘Curas para uma doença que não existe’.”

Após 37 anos, organização de 'cura gay' encerra suas atividades

 A organização Exodus International, a maior do mundo dedicada à "cura gay", está encerrando suas atividades após 37 anos


Em uma carta à comunidade homossexual, bissexual e transexual, o líder da entidade missionária, Alan Chambers (foto acima), pediu "desculpas pela dor e pelo sofrimento" que ele e a organização causaram a muitas pessoas. Chambers admitiu ser gay:

"Vários anos atrás eu, de forma conveniente, omiti minha atração pelo mesmo sexo. Eu tinha medo de dividir isso. Hoje, entretanto, aceito esse sentimento como parte da minha vida", escreveu ele, de acordo com trecho da carta publicada pelo site "Gawker".
Chambers disse que a organização cristã que lidera terá uma outra diretriz a partir de agora.
Na contramão, esta semana, no Brasil, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que determina o fim da proibição, pelo Conselho Federal de Psicologia, de tratamentos que se propõem a reverter a homossexualidade. A questão foi apresentada pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da comissão.
Foto: Divulgação 

quinta-feira, março 21, 2013

Nova página, recomeçando a luta!!!!





Nossa antiga página pode ter sido excluída por conta da mudança de usuários, mas peço que ajudem a nossa Comunidade a se comunicar, estavamos com cerca de 18.000 pessoas curtindo e ajudando a divulgar a página e hoje precisamos recomeçar...
Curtam, compartilhem, façam da página um sucesso novamente, para que possamos seguir com a divulgação de nosso mundo mais que normal, mas que precisa tanto de um espaço para se manifestar...



Desde já agradeço imensamente a todos...

Beijos,
Roger Angeli